sexta-feira, 25 de novembro de 2022

BH MOSTRA SUA CARA 
 Pichações e grafites revelam as várias faces da capital mineira 
                                                                               Magali Simone  


Desenhos gigantescos, coloridos, assinaturas inusitadas fazem dos prédios vitrines de quem não é identificado na multidão.

             Você sai de casa, afobado, correndo para chegar ao trabalho e observa que a parede branca do muro da sua escola em que você estudou pintada com uma árvore, pássaros e flores. Resolve chegar atrasado, pois tem que fazer fotos e mandar para os seguidores das mídias sociais revelando-se nutrido pela beleza do inusitado quadro. Mas, e se neste mesmo muro, você encontrasse uma pichação? Talvez a reação fosse a mesma. Tiraria fotos, compartilharia com os amigos, mas, porém, dessa vez, repudiasse a assinatura, o símbolo que não te diz nada. O que causa a mudança de percepção entre a pichação e o grafite?

           O homo sapiens gosta de se expressar há milhares de anos. Para muitos teóricos, as pinturas rupestres, feitas nas cavernas, tinham o objetivo mágico de garantir o sucesso das caças que alimentariam o grupo. Já para o filósofo francês, Jacques Rancière, em seu livro, o “Espectador Emancipado”, de 2014, a estética e a política têm origem comum.  Ele parte da premissa de que a base de ambas seria o conceito de “partilha do sensível”, ou seja, a ideia de que formação de um dado grupo político teria como sustentação “o encontro                                                                               discordante das percepções individuais”.


Foto: Magali Simone
            Assim, a arte exibida nas galerias, nos museus seria chancelada pelo apreço da elite que, consoante, Umberto ECO (2007), em seu livro “A história da feiura” é valorizada pelos povos mais pobres, embora seja considerada kitsch, ou seja, vulgar pelas classes hegemônicas. Assim, não só a arte, mas a aparência de pessoas cujas características lembrem às da elite são, normalmente, consideradas uma espécie de padrão, enquanto às das classes subalternas que se distanciem do modelo hegemônico tendam a ser desvalorizadas. Já os símbolos delineados no espaço urbano como as pichações do tipo “Abaixo a ditadura”, dizer recorrentemente, pichado nos anos de chumbo (entre 1964 e 1985), tentavam tornar visíveis a truculência que a ditadura militar se esforçava para esconder.         

                                                                                                                             Foto: Magali Simone

              Docente da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), da UFMG, a professora Regina Helena Alves, explica que a arte das ruas é nomeada como “grafite” ou como “pichação”. Em 2017, ela causou polêmica a defender que a pichação da Igrejinha da Pampulha, um dos símbolos de Belo Horizonte, ocorrida naquele ano, não deveria ser classificada como vandalismo, mas como arte, não sendo, assim, justificável a prisão do autor. “O jovem foi preso pela pichação, mas ele pretendia chamar atenção para o fato de o patrimônio do Museu de Arte Moderna da Pampulha, estar abandonado em um galpão. A pichação, no entanto, foi mais condenada que a denúncia que ele pretendia fazer”, destacou.  


Foto: Magali Simone
Foto: Magali Simone


  A professora, que orientou uma dissertação sobre pichação, explicou que as “assinaturas” não são feitas de forma aleatória. Cada letra é pensada, desenhada, sendo constituída pelo estilo pessoal do pichador. ‘São feitos, normalmente, por jovens da periferia, que querem se tornar visíveis, por meio desse tipo de arte. Querem deixar registradas sua existência na cidade, sentir-se parte dela”.  


        Já os grafites, que estão se tornando comuns nos prédios de vários pontos de Belo Horizonte,  a professora destaca: “Este tipo de arte, tornou-se institucional. É preciso fazer licitação, o artista ganha muito dinheiro com isso, fica famoso. É uma arte permitida, não é algo espontâneo”. 

        A professora Regina Helena também ressaltou que só no Brasil há esta diferenciação entre pichação e grafite. “Quando viajei em um trem entre Moscou e Leningrado, todas as estações estavam pichadas. Com frases contra o regime autoritário, sobretudo, contra a violência LGBTQUIA+. As pessoas achavam natural”.


Um bom espaço para pixação foi usado, no caso deste muro, na esquina de rua Ouro Preto com avenida Augusto de Lima, no Barro Preto (vide foto acima e abaixo). 

        O responsável pela boite LAB, localizada na avenida do Contorno, 6342, na região da Savassi,  Bruno Calil, informa que existe ainda a técnica mista,  também conhecida como lambe-lambe, por misturar grafite e colagem, perpassando ainda pela arte da pichação .  Esta técnica foi a escolhida para decorar a fachada daquela casa noturna.


         Rejeição

         Há quem, no entanto, rejeite as pichações. A dona de casa, Marisa Silva Castro, 34 anos, ficou revoltada quando viu no muro da sua casa, recém pintada, a assinatura “DGMSL”. “Estava muito orgulhosa de como havia ficado bonita. Gastei com tinta, com pintor.  E, agora, está estragado. Fiquei arrasada”, contou. Ela, porém, acredita que Belo Horizonte esteja mais bonita com os grafites que enfeitam os prédios em vários pontos da capital. “A cidade ficou mais colorida. E traz um pouco das pessoas simples, com                                                                                   sua beleza e com suas cores”, opinou. 















       Já o escritor e músico Rubinho Giaquinto, considera a pichação um ato político. “As pichações denunciam a desigualdade, o racismo, a exclusão. É uma forma que a periferia encontra de ter direito à cidade. De se tornar visível”.  O artista lembra que muitas estátuas homenageiam os bandeirantes, os colonizadores. “É muito raro uma imagem de uma escrava, de uma pessoa pobre, do povo”, lembrou. Os grafites, ao contrário, conforme Rubinho, têm uma estética mais sofisticada e, normalmente, são mais bem aceitos pela sociedade que as pichações. 

No mundo inteiro, o grafite está sendo usado como sinalização oficial, determinando zona de trânsito em baixa velocidade, a exemplo do que foi sinalizado no entorno interno da Praça Raul Soares. 


Quiz:

Conte para a gente: 

1- O que você acha? Pichação é arte? 

a) Sim.  Deixa a cidade mais colorida, traz novos elementos à cidade.

b) Não, São pinturas feitas sem autorização que sujam os muros

c) Não tenho uma opinião sobre isso 


2- E o grafite? Você considera arte? 

a) Sim. Deixam os prédios mais bonitos e são autorizados.

b) Não. Acho que são desenhos muito exagerados. A cidade fica poluída.

c) Não sei opinar.


3- E os memes são arte? 

a) São arte acontemporânea.

b) Não são arte. São um novo formato de humor

c) Não sei opinar


Créditos:

Fotografia: Claudio Ramos e Magali Simone
Texto: Magali Simone - em colaboração 
Diagramação: João Claudio 





Nenhum comentário:

Postar um comentário